terça-feira, 2 de março de 2010

O gestor e o maestro

Por Rubens Fava

Assim como na gestão, os músicos são contratados pela sua capacidade técnica e pela competência com que dominam seus instrumentos.

Diferente da gestão, o músico não é avaliado e/ou demitido por seu comportamento.

O que pode levá-lo a ser demitido da orquestra é se sua capacidade técnica não estiver compatível com as exigências.

Logo, se visão de negócio, espírito de equipe, construção de relacionamento e inteligência emocional são pontos essenciais na avaliação de um colaborador, porque, muitas empresas se preocupam muito mais com a capacidade técnica no momento de sua contratação?

Por que desde criança, a educação de um indivíduo é voltada para o desenvolvimento de competências técnicas e na maioria das vezes deixa de lado as competências comportamentais?

E por que, no mundo corporativo, as pessoas são contratadas por sua competência técnica e são demitidas pelo seu comportamento?

Não estou dizendo que não é importante a capacidade técnica de um profissional, estou dizendo que o segredo de sucesso do gestor é ter a capacidade de equilibrar a competência técnica com a competência comportamental de seus colaboradores.

Estou dizendo que o gestor moderno deve ter capacidade técnica apurada em sua área de atuação, mas, também é necessário que ele tenha capacidade de se relacionar, capacidade de iniciativa, de resolver conflitos, capacidade de evangelizar posturas e criar discípulos e práticas sociais, capacidade de motivar equipes para que elas consigam desenvolver e colocar toda sua capacidade técnica em busca do bem comum e na concretização da visão da empresa.

Como diz Henry Mintzberg o gestor deve ser comparado ao maestro durante os ensaios em que os músicos não tocam e os ajudantes fazem barulho e em que quase tudo dá errado.

Sabemos que tanto a música quanto a administração são compostos por elementos e estes elementos são a parte mínima de cada um.

Na musica esses elementos são as notas musicais que quando combinadas em diversos instrumentos de certa forma dá origem a melodia.

Na administração esses elementos são as diversas variáveis que integram e formam um modelo de gestão.

Na música esses elementos não se alteram e qualquer músico irá executar sempre a mesma melodia, logo, o foco do maestro está focado na técnica e não no comportamento de seus músicos.

Na administração não, o gestor tem que ter a competência de integrar cada um desses elementos da administração, a sua própria melodia.

Na orquestra não há improvisação, existe uma partitura, um roteiro a ser seguido e que se repete exatamente da mesma forma a cada apresentação.

Na administração existem procedimentos e regras que tão somente servem de orientação, como se fosse uma bússula, e na maioria das vezes são interpretadas de formas diferentes pelos colaboradores e muitas vezes sequer são de seu conhecimento.

A orquestra com um conjunto relativamente grande de instrumentos não é, em absoluto, um agrupamento ao acaso dos elementos disponíveis.

A orquestra tem seu lay-out definido e sempre igual.

Trata-se de uma unidade altamente organizada e equilibrada, composta por quatro naipes ou famílias de instrumentos

Na frente está seu líder, o maestro, depois vêm os instrumentos de cordas, logo atrás os instrumentos de madeiras, em seguida os metais e por último os instrumentos de percussão que se localizam no fundo da orquestra.

Em uma empresa o gestor deve montar suas equipes de acordo com as necessidades e as exigências do mercado e deve fazer com que cada departamento, cada seção, cada grupo, cada indivíduo agregue valor ao produto e/ou serviço até que ele chegue ao mercado.

Para isso o gestor deve buscar harmonia, integração e sinergia entre as diversas áreas, que diferente da orquestra, não é uma coisa natural.

No mundo corporativo não existem melodias pré definidas, não existem respostas fabricadas, assim, o gestor tem o desafio de dia a dia criar e recriar uma obra prima que não é finita.

Como diz Mintzberg, infelizmente, os gestores preferem a imagem pomposa de um maestro dirigindo um concerto espetacular em um teatro cheio, o que não passa de uma ilusão, de um mito.

Fonte: Administradores.com.br