quarta-feira, 27 de abril de 2011

[Entrevista] Ética é fundamental para uma boa imagem

O mercado para as instituições de ensino superior no Brasil é cada vez mais disputado em função da grande oferta de escolas. A necessidade de manter a competitividade e conquistar novos alunos não significa que as universidades possam usar de todas as estratégias disponíveis para alcançar seus objetivos. Para o professor Francisco Gracioso, conselheiro associado da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), a competição deve ter parâmetros.

Em entrevista consedida ao Portal Aprender ele defende a criação de um código de ética pelas próprias escolas.

@prender: Há uma oferta muito grande de instituições de ensino superior no Brasil. Qual o cenário desse setor?

Francisco Gracioso: As matrículas em faculdades particulares cresceram bastante nos últimos dez anos. Hoje cerca de dois terços dos alunos de cursos superiores estão em escolas privadas, contra apenas um terço nas universidades federais e estaduais. De fato, há excesso de vagas no sistema privado e isto reflete um otimismo exagerado dos empresários, que confiaram na manutenção dos índices de desenvolvimento registrados na década passada. A rigor, o sistema de ensino superior brasileiro não está superdimensionado, principalmente quando comparamos com outros países em estágios semelhantes de desenvolvimento. Se a economia retomar o seu crescimento, como parece provável, haverá uma verdadeira explosão de matrículas, nas faculdades orientadas para as classes C e D.

@prender: Como as IES podem construir uma imagem pública favorável?

Francisco Gracioso: Segundo meus estudos, a imagem pública das IES particulares é melhor do que a de outras instituições prestadoras de serviços, como as linhas aéreas ou os planos de saúde. Mas é possível melhorar a imagem se juntarmos forças e realizarmos esforços coletivos. Órgãos como o Semesp [Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo], por exemplo, já pensam no assunto.

@prender: A competição entre as IES particulares brasileiras vez por outra extrapola a ética. De que maneira essa disputa acontece?

Francisco Gracioso: Há uma regra não escrita, segundo a qual as escolas não devem fazer concorrência agressiva entre elas. Mas é evidente que muitas instituições de grande porte, com economias de escala, têm condições de oferecer preços mais baixos. Isso é natural. Devemos nos acostumar com esse tipo de competição. Por outro lado, quando a concorrência é feita com base em promessas enganadoras, entramos no terreno da fraude. Acredito ser urgente a criação de um código de ética pelas próprias escolas, antes que o poder público decida intervir com mão de ferro.

@prender: Como as escolas superiores devem se organizar para implantar a auto-regulação? Quais critérios devem ser considerados?

A autoregulação, ou a autoregulamentação, é urgente. Para dar certo, a medida exige duas premissas: o código propriamente dito e a criação de um organismo com força para aplicá-lo e impor sanções a quem não o respeita. Quanto aos critérios a serem utilizados neste código, penso essencialmente em duas coisas: respeito à ética nas relações entre as escolas e aos direitos dos alunos. A propaganda enganosa, por exemplo, deverá ser considerada uma falta grave. Por outro lado, o código deverá estabelecer critérios mínimos de qualidade a serem seguidos por todas as escolas, independentemente do perfil do público a que servem.

Leia a entrevista na íntegra.