terça-feira, 11 de outubro de 2011

[Entrevista] O poder da narrativa transmídia com Jeff Gomez

Fundador da Starlight Runner e pioneiro da transmídia, Jeff Gomez, conversou com a revista Istoé DINHEIRO sobre a necessidade de inovar para capturar o olhar dos consumidores.

“Os tempos mudaram e as empresas sabem que é preciso inovar para capturar o olhar dos consumidores para seus produtos e marcas”, diz Jeff Gomez, fundador da Starlight Runner, que tem, entre seus clientes, gigantes como Disney, Coca-Cola, Microsoft, Fox e Mattel. O que atraiu todas essas empresas foi a capacidade de Gomez de criar histórias que possam ser desdobradas em diferentes mídias, a começar pela internet. E, assim, fortalecer suas marcas, angariar fãs e vender mais. Gomez é um pioneiro na criação de projetos de narrativa transmídia, em que uma história principal se desdobra em diferentes mídias, de um quadrinho a uma série online, de um filme a um game, ou vice-versa, se expandindo e ganhando, assim, novos contornos e intensidade.

Confira a entrevista:

DINHEIRO: Como o senhor define transmídia?

GOMEZ: Transmídia é um termo que não gosto de usar de forma isolada. Porque há uma certa ambiguidade sobre o que ele significa e poderia ser o mesmo que multi-plataforma ou crossmedia. Quando você o usa de forma isolada, há esse problema. Entretanto, narrativa transmídia é o termo que me sinto mais confortável em usar, porque você estabelece a noção de que está comunicando mensagens, conceitos, histórias de forma que cada plataforma diferente de mídia possa contribuir com algo novo para uma narrativa principal. Além disso, ela convida o público a participar de alguma forma ou em algum momento. Então, uma boa narrativa transmídia é aquela que se espalha por diferentes mídias, sendo que uma delas é a principal em que a maioria das pessoas vai acompanhar e se divertir, sem a necessidade de seguir o todo, mas quem o fizer terá uma experiência mais intensa.


DINHEIRO: A narrativa transmídia é uma coisa de nicho? A maior parte das pessoas terá tempo para consumir todo esse conteúdo?

GOMEZ: Esse processo está mudando e crescendo muito rápido. Há cada vez mais empresas na mídia tradicional perdendo parte da sua audiência porque as crianças, os adolescentes e mesmo os jovens adultos cada vez mais estão consumindo menos as mídias tradicionais e as trocando por internet, games e celulares. Como você traz esse público de volta é o desafio dessas empresas e, portanto, de boa parte dos anunciantes também. Os tempos mudaram e as empresas sabem que é preciso inovar para capturar o olhar dos consumidores para seus produtos e marcas.


DINHEIRO: E por que o senhor acredita que a narrativa transmídia é tão poderosa?

GOMEZ: Star Wars é um exemplo pioneiro de narrativa transmídia. E ele funciona porque, se você analisar, o conteúdo produzido hoje em dia associado à marca Star Wars é muito diferente do que foi feito antes. Tudo foi cuidadosamente coordenado e está em sintonia com os anseios do público e das possibilidades permitidas pelas novas tecnologias, uma característica de um bom projeto transmídia. E é por isso que ele continua faturando mais de US$ 1 bilhão ao ano. E há muitos outros exemplos, como Lost, Heroes, Matrix, Bruxa de Blair, Batman.


DINHEIRO: Qual foi projeto de sucesso desenvolvido pelo senhor?

GOMEZ: Em 2003, a Mattel me contratou para fazer um projeto transmídia para comemorar os 35 anos da linha de carros em miniatura HotWheels. Criamos 42 personagens, os AcceleRacers, que disputavam ferozes corridas de carro. Além de um personagem, o Doutor Tezla, que incitava uma disputa entre duas equipes de carros para encontrar uma fonte de energia que pudesse salvar o planeta. A busca se dava em um ambiente fantástico, repleto de pântanos, cavernas. As histórias que eles viviam foram um sucesso e ajudaram a elevar as vendas dos carrinhos de brinquedo em 40%. Eles continuam desenvolvendo produtos associados a esse universo até hoje, além de novos projetos transmídia. Trabalhamos em alguns outros projetos para Disney, Hasbro e Microsoft também, entre outros.


DINHEIRO: Em “Cultura da Convergência”, lançado ano passado no Brasil, o teórico Henry Jenkins criou o termo “narrativa transmídia”. No entanto, mesmo antes disso, o senhor já trabalhava em projetos desse tipo...

GOMEZ: Exatamente. Desenvolvo projetos de narrativa transmídia desde meados dos anos 90, mas não os chamava assim. É claro que tudo isso evoluiu muito nos últimos anos com as múltiplas telas, o maior acesso à internet e até mesmo o maior número de dispositivos móveis. A definição de Jenkins está em sintonia com todas essas mudanças e é o termo criado por ele que uso hoje para descrever o meu trabalho.


DINHEIRO: Historicamente, a indústria do entretenimento tem se envolvido mais com projetos de narrativa transmdia. Qualquer tipo de marca ou produto pode tirar vantagem de um projeto desse tipo?

GOMEZ: Sim, mas há aquelas situações em que a estratégia funciona melhor. A marca ou a história a ser contada precisa ser grande, icônica, para ser desdobrada em diferentes mídias. Uma empresa de sabonetes, por exemplo, precisa entender a essência do seu produto, para que possa se construir uma grande história em torno dessa essência. A partir disso, é possível criar uma série de coisas muito interessantes, não tenho dúvida. Já criamos um universo em torno de um refrigerante, no caso a Coca-Cola, com a Fábrica da Felicidade dentro das máquinas. Então, é sempre possível.


Fonte: Istoé Dinheiro