terça-feira, 14 de outubro de 2014

108-º aniversário de Hannah Arendt

Por António Henriques

A filósofa Hannah Arendt completaria hoje seu 108.º aniversário. De origem judaica, Johanna Arendt (o seu nome de batismo) foi perseguida pela Alemanha nazi, mas libertou-se das amarras de Hitler e tornou-se numa das filósofas mais influentes do século XX.



Hannah Arendt nasceu em 1906, perto de Hanover, no seio de uma família de judeus, filha de uma falímia oriunda de Königsberg, na Prússia, onde a educação de jovens mulheres era promovida.

Recebeu uma educação liberal, e resultado de tendências sociais-democratas defendidas pela mãe. Hannah não pertencia a nenhuma comunidade religiosa, mas sempre se considerou judia. E por ser judia, viria a ser proibida de defender teses e de ter acesso à docência nas universidades alemãs.

Em 1924, começa os seus estudos na Universidade de Marburg, onde teve aulas de filosofia com Heidegger (a sua principal fonte de inspiração e com quem viria a viver um romance) e Nicolai Hartmann, e as de teologia protestante com Rudolf Bultmann.

Aos 17 anos, é obrigada a abandonar a escola, por motivos disciplinares, já depois de ler grandes obras de filósofos como Kant. Vai viver para Berlim, sozinha.

É nesta altura que escreve uma crítica do livro ‘Das Frauenproblem in der Gegenwart’ (O problema da mulher na atualidade) de Alice Rühle-Gerstel, no qual aborda a emancipação da mulher na vida pública, mas também os constrangimentos relacionados com o casamento, a lide doméstica e a vida profissional.

Foi perseguida pela Alemanha nazi e esteve privada de liberdade, em 1933 (ano da tomada do poder de Hitler), poucos anos antes de o regime de Hitler lhe retirar a nacionalidade. Arendt não teve pátria até 1951, altura em que adota a nacionalidade norte-americana.

Foi jornalista e professora universitária, fazendo algumas importantes publicações em que dissertava sobre a sua grande paixão: filosofia política.

Hannah Arendt – hoje lembrada com um google doodle que assinala o 108-º aniversário do seu nascimento, a 14 de outubro de 1906 – recusava ser chamada de filósofa, mas na verdade tornou-se numa das mais influentes.

Não gostava de que as suas ‘teorias políticas’ (era assim que Hannah Arendt apelidava as verdadeiras análises filosóficas sobre a área) fossem chamadas de “filosofia política”.

Qualquer que fosse o conceito, a essência das suas ideias têm hoje primazia. Hannah Arendt era uma grande defensora do pluralismo político, que segundo a filósofa seria capaz de garantir a liberdade e igualdade política.

"O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e existe somente enquanto o grupo se conserva unido", defendia. A norte-americana Hannah Arendt era, como é óbvio, uma defensora da democracia, mas esse conceito deveria promover a inclusão. Preferia uma democracia direta (com conselhos formados por pessoas capazes de ir ao cerne dos problemas), ao invés da democracia representativa, tal qual como a concebemos.

A profundidade das suas “teorias políticas” era de tal forma notória que Hannah Arendt é hoje olhada como uma filósofa, capaz de gerar pensamentos e discussões críticas, tal qual como haviam feito grandes filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Heidegger – ou até mesmo Maquiavel e Montesquieu, nomes da filosofia moderna.

Arendt assumiu, assim, um papel preponderante nos debates sobre a política contemporânea, já que o seu conhecimento reúne um vasto conjunto de obras literárias, desde documentos filosóficos a históricos, passando por biografias e conceitos políticos.

Hannah Arendt pode ser apelidada de pensadora original, com áreas de conhecimento profundas, em diversas especialidade – reunindo esse conhecimento num pensamento político. "A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos", eis uma das suas frases mais célebres.

O trabalho filosófico de Hannah Arendt envolve temáticas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a condição feminina, a educação, o trabalho, a violência. Arendt lutou contra o nacional-socialismo, contrariando alguns intelectuais alemães e aqueles que chamava de “eruditos de manada” ou “oportunistas”.

Lutou contra o antissemitismo do Terceiro Reich, trabalhou com crianças judias expatriadas. Hannah Arendt fugiu a um campo de concentração e partiu para os EUA, onde trabalhou em editoras e organizações judaicas.