terça-feira, 9 de abril de 2013

Um negócio para cada estilo

Por Sonaira San Pedro e José Vicente Bernardo para PEGN

Em que momento da sua vida você se sentiu plenamente feliz? Foi fazendo brigadeiros, na antiga cozinha de sua avó? Trabalhando na campanha pela sua chapa na eleição da escola? Baixando a última versão do game mais comentado pelos amigos? Defendendo os direitos dos animais? Fazendo uma palestra sobre reciclagem? Encontrar sua vocação empreendedora tem tudo a ver com as memórias afetivas que compõem sua personalidade. Essa investigação íntima, que remete a seus desejos mais antigos, pode dar a pista de qual será o estilo do seu negócio. Geek, fashion, gourmet, engajada: descubra seu jeito de empreender e siga o exemplo dessas mulheres que encontraram o caminho do sucesso.

Faturamento de gente grande

Precoce na cozinha, incansável no dia a dia e ligada à família, Renata Vanzetto é chef de sucesso aos 23 anos.

QUEM É > Renata Vanzetto, 23 anos, chef de cozinha, fundadora do Marakuthai
O QUE FAZ > Cozinha contemporênea, com ingredientes brasileiros e tailandeses

Renata Vanzetto começou a cozinhar aos 9 anos. Aos 17, deixou Ilhabela, no litoral de São Paulo, para fazer estágios em cozinhas da França e da Espanha. Quando voltou, resolveu começar a faculdade de gastronomia. “Detestei. Fiquei quatro dias na aula e voltei correndo para Ilhabela”, conta. A família a ajudou a montar um restaurante na ilha. A mãe, Silvia, entrou com um fogão e a decoração, a tia cedeu o micro-ondas e o pai, René, entrou com o ponto na marina. O cardápio tinha apenas um prato principal. “Era um negócio caseiro. De repente, o restaurante explodiu e nossa fama subiu a serra.”

Em 2008, a jovem chef foi procurada por um investidor para abrir uma unidade em São Paulo. “Ele desistiu quando tudo estava pronto. Decidimos levar o projeto adiante. Investimos R$ 600 mil”, lembra. Três anos depois, a casa tem um faturamento mensal de R$ 200 mil.

Mesmo sem ter formação na área, Renata já foi indicada em importantes guias gastronômicos do mundo. Recusou convites como um estágio na cozinha do D.O.M., de Alex Atala (porque estava envolvida na inauguração de São Paulo), e até para posar para uma revista masculina.

Em julho, fez estágio no restaurante número 1 do mundo, o dinamarquês Noma, do chef René Redzepi. “Lá, retomei a relação com a natureza e a atenção aos ingredientes. E senti o desejo de, um dia, voltar definitivamente para Ilhabela, onde cresci e fui criada”, conta. “O restaurante na ilha é o laboratório para tornar realidade meu grande projeto de trabalhar só com os produtos de lá, valorizando os ingredientes naturais e orgânicos.” O Marakuthai de Ilhabela tem 18 lugares e funciona na alta temporada, quando fatura R$ 300 mil por mês.



Doce de roupa nova

O hobby de fazer brigadeiros para os amigos se transformou em cinco lojas em apenas um ano

QUEM É > Taciana Kalili, 34 anos, designer, fundadora da Brigaderia
O QUE FAZ > Produz e vende brigadeiros com roupagem gourmet

Recém-casada e morando havia pouco tempo em São Paulo, a mineira Taciana Kalili achou que iria agradar se preparasse os doces para os 400 convidados do marido aniversariante. Acertou. “Eles me perguntavam quem tinha feito os brigadeiros e, nos dias seguintes, começaram a ligar fazendo encomendas”, conta. Quatro meses depois, no Natal de 2009, já gerenciava 20 pessoas trabalhando em sua casa para dar conta das entregas. A sala de estar virou depósito de caixas forradas com tecidos estampados, onde os doces eram embalados. Taciana então juntou R$ 40 mil e abriu a primeira loja, em março de 2010. No fim do ano, já tinha faturado R$ 5 milhões.

Hoje Taciana tem uma fábrica e cinco lojas em shoppings de São Paulo – planeja chegar a Campinas (SP) e Rio de Janeiro. No cardápio, há 35 receitas à base de chocolate belga com ingredientes como cheesecake de goiaba, limão, macadâmia e pistache. As embalagens estampadas são sua marca registrada. Hoje a Brigaderia tem 70 funcionários para atender 22 mil clientes, incluindo empresas que encomendam os doces para seus eventos.

VIDA FINANCEIRA X VIDA PESSOAL
“Hoje, posso dizer que tenho uma vida financeira tranquila. Mas, desde a adolescência, abri mão de minha vida pessoal, enfiada na cozinha dia e noite.” Renata acorda às 10h e passa o dia misturando ingredientes típicos tailandeses a receitas brasileiras. Deixa o restaurante às 2 da manhã. A irmã Luiza, de 19 anos, lida com os fornecedores. A mais recente aposta é um buffet da marca.



Vida recicladas

TemQuemQueira faz moda com matéria-prima que iria para o lixo. A mão de obra, prisional, tem plano de carreira

QUEM É > Adriana Gryner, 50 anos, fundadora
O QUE FAZ > Transforma o lixo gerado na realização de eventos e publicidade em moda e decoração.

Dona de uma agência de eventos corporativos, Adriana Gryner se incomodava com o lixo gerado na desmontagem de fundos de palco, banners e outdoors. Pensava em uma maneira de reaproveitar tudo aquilo. “Não existia reciclagem para esses materiais, então resolvi testar com minha própria máquina de costura o que poderia fazer com eles.”

Foi assim que, em 2008, decidiu investir R$ 30 mil em um projeto que permitiria usar lixo como matéria-prima para a produção de bolsas. “Queria dar oportunidade às pessoas e escolhi o tipo de mão de obra mais marginalizada que poderia encontrar no mercado. Chegamos a um presídio, montamos uma oficina de costura e começamos a capacitar as pessoas”, lembra. “Ao mesmo tempo que os detentos aprendiam a manusear a máquina de costura, reciclando o vinil colorido, tentavam recompor suas vidas.”

Hoje, a TemQuemQueira mantém três oficinas, com 35 funcionários e 5 mil peças produzidas por mês. Das oficinas, saem porta-iPads, material para escritório e artigos de decoração, além das bolsas. A ideia de investir no design deu certo: as coleções são assinadas por estilistas de renome e toda a equipe criativa da agência de eventos de Adriana trabalha voluntariamente na criação das peças. A TemQuemQueira conseguiu o patrocínio de grandes empresas, como Embratel e Bradesco Seguros, que apoiam a reciclagem de lonas e telas que elas mesmas produzem. O próximo passo é transformar as lonas que serão usadas nos Jogos Olímpicos de Londres e do Brasil em artigos úteis para a sociedade.



Assinatura fashion

Estilista carioca batalhou para manter o nome e a identidade da marca que criou em 2003

QUEM É > Isabela Capeto, 41 anos, estilista
O QUE FAZ > Desenvolve moda feminina artesanal e urbana

Quando abril sua empresa, em 2003, Isabela Capeto já tinha passado por grifes como Maria Bonita e Lenny. Investiu R$ 5 mil e sublocou uma sala no escritório de uma amiga. “Dei o nome de Ateliê Ibô. Com o negócio crescendo, meu agente me convenceu a batizar a marca com meu nome. Achei pretensioso, mas deu certo”, conta. Logo ela já atendia a 49 multimarcas. As exportações (para Dubai, França, Estados Unidos e Japão) chegaram a representar 40% da produção.

Isabela fez parcerias e contratos de licenciamento com Melissa, Havaianas, Brastemp, Risqué, Levi’s e Phebo. Em 2008, vendeu 50% do negócio para a InBrands, esperando facilitar a produção e simplificar a gestão financeira. “Não deu certo.” No ano seguinte, quis voltar atrás. “Demorou dois anos para eu conseguir a marca de volta. Tive momentos de pânico.”

Com a recompra, focou na loja do Rio. Tem 12 funcionários, mantém diferentes fornecedores (entre ONGs e projetos sociais) e lançou uma linha de decoração. Conta com o marido, Werner, na área financeira, e com a babá (na família há 42 anos), para tomar conta da filha Francisca, de 12 anos.



Inglês para todos

Ana Pessoa lançou o curso online Meuinglês em 2010. Neste ano, deve faturar R$ 2,5 milhões

QUEM É > Ana Gabriela Pessoa, 30 anos, pedagoga, fundadora da Ezlearn
O QUE FAZ > Lançou curso de inglês para classe C e tem 100 mil alunos

A ideia de criar a Ezlearn e o curso Meuinglês nasceu em 2008, quando Ana Gabriela Pessoa tinha 27 anos, logo depois de concluir o mestrado em Políticas Educacionais na Universidade Harvard. “Voltei para o Brasil e captei US$ 25 mil de investidores anjos. Não havia muita inovação em educação online no Brasil. Os primeiros modelos estavam começando nos EUA. Fiquei alguns meses sozinha e, aos poucos, fui montando a equipe. A ‘sede’ era na casa dos meus pais – às vezes, num restaurante no Rio de Janeiro com wi-fi grátis. Ficávamos horas lá, à base de café é água”, lembra.

A divulgação do negócio foi boca a boca. “Sempre tivemos uma equipe pedagógica de primeira produzindo o melhor conteúdo para aprender inglês online do Brasil. O negócio foi crescendo graças às parcerias e aos clientes que elogiavam nosso trabalho”, diz Ana. “Entramos num nicho crescente. A classe C se preocupa cada vez mais com educação. A oferta de conteúdo de alta qualidade a um preço acessível ainda é pequena no Brasil.” Em 2010, primeiro ano de operação do curso, a empresa faturou R$ 500 mil. Para 2011, a previsão é de R$ 2,5 milhões. “Comecei sozinha em 2008. Hoje somos em 20 e temos mais de 100 mil alunos.”

“Para ser empreendedora tem de querer mudar algo, ver uma oportunidade de mercado, agir rápido e contar com os sócios certos. Tem que saber que muita coisa dará errado e você terá de se levantar e tentar de novo”, ensina Ana, que está criando um grupo de empreendedoras em tecnologia para incentivar outras mulheres a montar seu próprio negócio.



Google para criança

Empreendedora cria site que filtra conteúdos inadequados e torna a pesquisa divertida

QUEM É > Natália Monteiro, 25 anos, administradora
O QUE FAZ > lançou o primeiro site de buscas para crianças

Três anos e várias ideias depois de se lançar como empreendedora, Natália Monteiro achou o que procurava. Agitada, curiosa, fã de tecnologia e apaixonada por crianças, criou, no fim do ano passado, o primeiro buscador da América Latina para crianças, o Zuggi.com. “A função do site é filtrar conteúdos inadequados e ajudar os pequenos a fazer suas pesquisas online de um jeito alegre”, diz.

Antes de chegar ao buscador, Natália teve vários projetos: uma fábrica de brinquedos, uma de produtos para bebês, vender inaladores infantis pela internet, fazer um blog para mães... “Fui flexível para mudar quando percebia que o caminho estava errado”, diz. “Meu investimento inicial veio da minha família e do governo. Recebi R$ 120 mil para iniciar as operações”, conta. O dinheiro serviu para contratar funcionários e consultorias de marketing e gestão. Mas os primeiros clientes vieram pelo boca a boca. “Iniciamos as vendas de uma versão para as escolas, com metodologia de apoio ao professor”, diz Natália. Até então, só havia a versão gratuita do buscador. “Hoje somos duas sócias, quatro funcionários e três investidores anjos.”