quarta-feira, 13 de março de 2013

Uma visão árabe sobre o mundo árabe

por Rodrigo Bodstein

As notícias que chegam do Oriente Médio retratam uma região tomada pelo conflito e deixam esquecida uma história rica, que começa 10.000 anos antes de Cristo e que presenciou grandes impérios e culturas. A visão Ocidental sobre a região – o termo Oriente Médio foi cunhado por Alfred Mahan, um geoestrategista americano – acaba ficando marcada pela violência, por discussões sobre petróleo e por questões relacionadas a radicais islâmicos.

Na última semana, por exemplo, pelo menos cinco aviões da Força Aérea de Israel invadiram o espaço aéreo libanês, violando uma resolução da ONU, e houve relatos de maus tratos a menores palestinos detidos em prisões israelenses. Quase ao mesmo tempo, um carro bomba explodiu no Iêmen e matou 12 integrantes de uma milícia pró-governo – renovando a disputa por poder depois da queda de Abdullah Saleh -. Um pouco mais ao Sul, uma corte decidiu que as eleições de abril no Egito seriam suspensas e o país está cada vez mais dividido entre islamistas e secularistas, cisão que já custou a vida de 70 pessoas só no último mês. No Iraque, 40 soldados de Bashar al-Assad foram assassinados, após fugirem de um ataque da oposição. Pouco tempo depois, insurgentes sírios capturaram 20 soldados da ONU nas colinas de Golan, o que aumentou a preocupação de o conflito estar se espalhando para além das fronteiras do país.

Se a violência não tomou conta de outras nações, com certeza o custo humano da guerra civil, sim. Segundo a Organização das Nações Unidas, o número de refugiados atingiu a marca de 1 milhão na última quarta-feira, com a chegada de uma mulher de 19 anos chamada Bushra e seus dois filhos ao Líbano. Para Rami Khouri, entrevistado do Milênio desta segunda, “o conflito sírio é a maior guerra por procuração desde o Vietnã.”, mas ressalta que nenhum país no entorno – Turquia, Jordânia ou mesmo o Líbano – vai permitir que o conflito ultrapasse essas fronteiras.

O Líbano ainda se recupera de recente história de luta sectária e de guerra civil brutal, que tomou conta do país entre 1975 e 1990, com intervenção de Israel, Síria e Nações Unidas. O Chefe da Câmara de Comércio de Beirute, Mohammad Choukeir, disse ao jornal libanês Daily Star, na última quarta-feira, que a economia está na pior fase desde a assinatura dos acordos de paz. A afirmação foi feita no contexto de uma greve que afeta diversos setores, como o turismo, mas pesquisas recentes apontam para a descoberta de reservas de gás maiores do que as da Síria e de Chipre, o que pode dar novo fôlego ao país.

O repórter Silio Boccanera viajou ao Líbano para conversar com diretor do Instituto Issam Fares de Políticas Públicas e Relações Internacionais na Universidade Americana de Beirute, o jornalista e cientista político Rami Khouri. Vencedor do prêmio Eliav Sartawi, em 2004, por jornalismo no Oriente Médio e um dos premiados com o Pax Christi International Peace, por seus esforços pela paz e reconciliação, ele possui mais de quatro décadas de experiência de trabalho e pesquisa na região.

Assista a entrevista de Rami Khouri para o programa Milênio