terça-feira, 26 de junho de 2012

[Entrevista] Bruno Malta, produtor de eventos

Por Felippe Senne

Bruno Malta, um dos mais bem sucedidos profissionais da noite do Rio de Janeiro, que atua como promoter de clubs, produtor de grandes eventos e ainda administra um portal de baladas carioca, ou seja, um profissional que precisa sempre de DJs e que tem muita experiência no mercado.

O seu campo de atuação é de festas e eventos com estilo mainstream, indo do House, MPB, Samba, Hip Hop até o Funk carioca, porém todo mundo, desde os DJs de som comercial até os mais undergrounds poderão entender bem como funciona toda a mecânica da noite, já que os dois mundos funcionam mais ou menos da mesma maneira.

FS - De uma forma bem resumida fale como é o trabalho de um promoter de clubs e um produtor de eventos na prática? Quais são suas funções, objetivos, o que faz no dia-a-dia.

BM - O meu trabalho como promoter basicamente é fazer com que as noites semanais que cuidamos dos clubs “aconteçam”. Esse “aconteçam” significa transformar determinada noite da semana do club em um sucesso. Mas não é apenas fazer com que o evento fique lotado, não adianta lotar com um público que não é o desejado para aquela casa, ou encher uma festa de um determinado estilo com uma galera que não tenha nada a ver! Esse é o maior desafio: fazer da festa um sucesso de público, tanto em quantidade quanto em qualidade… e entenda: qualidade não é pura e simplesmente gente com dinheiro, mas sim pessoas legais, de bem com a vida e que gostam de verdade do estilo de vida noturno.

Como produtor de evento, também tenho que “casar” muitas coisas: escolher o tipo de atração ideal para o local ideal, na data certa, trabalhar corretamente a forma de comunicação/divulgação para conseguir a atenção do público que desejo atrair para o evento, e no final das contas a festa ser um sucesso! Um erro em apenas um desses itens que citei geralmente compromete o sucesso do evento, e muito dinheiro é perdido.

FS - Em relação ao mundo das festas, eventos DJs, etc, qual é a importância da internet nisso tudo?

BM - A internet é a base de tudo, sem ela sinceramente nada acontece neste meio: minha divulgação de eventos é quase 100% baseada em serviços online (sites de baladas, Facebook, messengers, etc), algumas vezes uso flyers impressos, mas seria numa proporção de para cada 20 festas q faço, em apenas uma uso flyer físico feito em gráfica!

Todo o contato com artistas é feito basicamente pela Internet, até mesmo pelos fusos horários se tratando de contato com artistas internacionais.

Inclusive para conhecer o trabalho de certos artistas, e medir o grau de popularidade e sucesso deles, hoje em dia a internet é fundamental, senão teria que sair pelo Rio, Brasil e até mundo afora indo em todas as festas para conferir as apresentações dos mesmo e ficar por dentro do que está “bombando” de verdade, saber o que é ou não bom, e por aí vai!

FS - O que faz você se interessar pelo trabalho de um DJ ou artista ao ponto de contratá-lo? Tanto em relação aos artistas que estão nas grandes mídias, tanto em relação a DJs locais.

BM - Sendo bem sincero, no caso de um DJ FAMOSO, renomado, o grande fator é se a presença dele no evento vai gerar interesse no público, ou seja, se a apresentação desse DJ famoso realmente vai fazer com que tenha venda direta de ingressos, se ele vai ser comercialmente viável e lotar o evento! É importante saber aonde colocar cada artista. Muitas vezes em um certo club um DJ faz um enorme sucesso, e em outro não tem tanta repercussão. Você tem que conhecer o público de cada casa, de cada região, para formatar corretamente o seu evento.

Muitas vezes o produtor erra colocando o artista no lugar errado! Inúmeras vezes vi DJs não agradando em certo club, mas a grande verdade a culpa não dele , e sim de quem o contratou, ou até de quem montou um line up incorretamente, colocando um DJ de som mais calmo num horário de pico, ou vice-versa.

Já no caso de um DJ LOCAL, que não está nas grandes mídias ou que não tenha uma grande base de fãs e seguidores, eu contrato se eu souber que eles vai “jogar junto”, eu preciso ter confiança no DJ de que ele vai dar o seu melhor na cabine para agradar o público, logicamente respeitando o gênero e estilo deles, afim de fazer a noite ser boa para o cliente e para o dono do club!

Outra coisa que conta para mim também é o DJ não pensar apenas no seu umbigo e no curto prazo, abrindo a noite tocando todos os hits do momento, só para prejudicar o DJ seguinte, com a ilusão de que vai chamar mais atenção, quando um DJ “acelera” cedo demais a noite acaba que a festa dura menos, o público se cansa mais rápido e o bar do evento fatura menos, ou seja, todo mundo é prejudicado: o dono do club, o promoter, e todos os funcionários que trabalham na casa !

Também tem aquele lado que os DJs costumam torcer o nariz: se na festa só tem público que ouve e curte apenas som comercial, será que é mesmo bom pro DJ apenas tocar sons desconhecidos, do que abrir o leque e tocar os sons da rádio? Será que o DJ não se prejudica mais não agradando as centenas de pessoas, aos promoters e aos donos do club tocando apenas o que ele quer, do que sendo mais flexível?

O DJ tem que perceber que a noite está literalmente na mão dele: é ele quem “decide” que horas a noite vai acabar, se vai ser animada e inesquecível, ou apenas mais uma noitada comum. Já fiz muita festa lotada porém desanimada, e também muita festa com público bem reduzido e que tava maior “pressão”, muito animada, ambas graças ao set dos DJs de cada uma.

FS - Do ponto de vista do contratante, que tipo de atitudes por parte do DJ podem ser prejudiciais para a sua carreira e podem “queimá-lo” no mercado?

BM - Um DJ pode se queimar de diversas formas e alguns se queimaram conosco, alguns até por atitudes estúpidas mesmo, tipo: encher a cara e não conseguir tocar direito, ficar mais preocupado em azarar a mulherada e aparecer pros amigos do que tocar música, já teve DJ que tocou pra gente e que no meio do set fez xixi na cabine, etc etc etc.

Outra coisa extremamente negativa, que também não entendo: tem DJ que faz fofoca e mete o malho em certos clubs e promoters, sem nem tentar um diálogo antes… para que? Não são eles que contratam os DJs? Se você não gostou de tocar em certa casa ou para certo produtor, não é mais fácil conversar com eles, ou até recusar o próximo convite?

E outra coisa: acima eu citei que muitos produtores erram colocando a atração errado para determinado público! Mas muitas vezes vejo DJs de má vontade ou DJs que apenas não conseguem ser versáteis. É óbvio que eu não vou pedir para um DJ de House tocar Hip Hop, por exemplo, mas tem DJ q realmente “caga” pra pista: chega, monta seu equipamento, faz o som apenas pra ele, e no final quem gostar, gostou e dane-se o mundo.

No caso de um DJ novato, e até de alguns experiente, ele tem que ser versátil, como um bom jogador de futebol, por exemplo: se um jogador é bom em chutar fora da área, se ele está sendo marcado nessa característica, ele tem q mostrar versatilidade, tem que mostrar que tem jogo e outros recursos, e que não precisa ser substituído.

O mesmo com um DJ: se tá naquela noite que o público só quer ouvir as “babas” (coisa que acontece no mundo inteiro e com grande frequência), se ele puder ser flexível em seu set ele vai conquistar a confiança dos profissionais que realizaram a festa, o público vai curtir, reconhecê-lo e respeitá-lo, e quem sabe no futuro esse mesmo público vai ser mais flexível quando ele trouxer novos sons pra sua pista? Isso sempre acontece.

Outra coisa que não entendo: tem DJ q sai de casa com o set pronto e acabou! Como assim? Foi como eu disse, é como um jogador: se a sua especialidade não tá funcionando bem naquele dia, e ele não quer ser substituído, ele precisa mostrar versatilidade e inteligência.

Logicamente ninguém vai pedir para um jogador de futebol jogar vôlei, nem pro DJ de hip hop tocar house, mas se o DJ em questão está batahando o seu espaço ele precisa ser flexível, ninguém nasce um Axwell ou David Guetta da vida, tem que ralar muito antes de tocar só o que quiser e ter seus próprios fãs.