Bruno Malta, um dos mais bem sucedidos profissionais da noite do Rio de Janeiro, que atua como promoter de clubs, produtor de grandes eventos e ainda administra um portal de baladas carioca, ou seja, um profissional que precisa sempre de DJs e que tem muita experiência no mercado.
O seu campo de atuação é de festas e eventos com estilo mainstream, indo do House, MPB, Samba, Hip Hop até o Funk carioca, porém todo mundo, desde os DJs de som comercial até os mais undergrounds poderão entender bem como funciona toda a mecânica da noite, já que os dois mundos funcionam mais ou menos da mesma maneira.
FS - De uma forma bem resumida fale como é o trabalho de um promoter de clubs e um produtor de eventos na prática? Quais são suas funções, objetivos, o que faz no dia-a-dia.
BM - O meu trabalho como promoter basicamente é fazer com que as noites semanais que cuidamos dos clubs “aconteçam”. Esse “aconteçam” significa transformar determinada noite da semana do club em um sucesso. Mas não é apenas fazer com que o evento fique lotado, não adianta lotar com um público que não é o desejado para aquela casa, ou encher uma festa de um determinado estilo com uma galera que não tenha nada a ver! Esse é o maior desafio: fazer da festa um sucesso de público, tanto em quantidade quanto em qualidade… e entenda: qualidade não é pura e simplesmente gente com dinheiro, mas sim pessoas legais, de bem com a vida e que gostam de verdade do estilo de vida noturno.
Como produtor de evento, também tenho que “casar” muitas coisas: escolher o tipo de atração ideal para o local ideal, na data certa, trabalhar corretamente a forma de comunicação/divulgação para conseguir a atenção do público que desejo atrair para o evento, e no final das contas a festa ser um sucesso! Um erro em apenas um desses itens que citei geralmente compromete o sucesso do evento, e muito dinheiro é perdido.
FS - Em relação ao mundo das festas, eventos DJs, etc, qual é a importância da internet nisso tudo?
BM - A internet é a base de tudo, sem ela sinceramente nada acontece neste meio: minha divulgação de eventos é quase 100% baseada em serviços online (sites de baladas, Facebook, messengers, etc), algumas vezes uso flyers impressos, mas seria numa proporção de para cada 20 festas q faço, em apenas uma uso flyer físico feito em gráfica!
Todo o contato com artistas é feito basicamente pela Internet, até mesmo pelos fusos horários se tratando de contato com artistas internacionais.
Inclusive para conhecer o trabalho de certos artistas, e medir o grau de popularidade e sucesso deles, hoje em dia a internet é fundamental, senão teria que sair pelo Rio, Brasil e até mundo afora indo em todas as festas para conferir as apresentações dos mesmo e ficar por dentro do que está “bombando” de verdade, saber o que é ou não bom, e por aí vai!
FS - O que faz você se interessar pelo trabalho de um DJ ou artista ao ponto de contratá-lo? Tanto em relação aos artistas que estão nas grandes mídias, tanto em relação a DJs locais.
BM - Sendo bem sincero, no caso de um DJ FAMOSO, renomado, o grande fator é se a presença dele no evento vai gerar interesse no público, ou seja, se a apresentação desse DJ famoso realmente vai fazer com que tenha venda direta de ingressos, se ele vai ser comercialmente viável e lotar o evento! É importante saber aonde colocar cada artista. Muitas vezes em um certo club um DJ faz um enorme sucesso, e em outro não tem tanta repercussão. Você tem que conhecer o público de cada casa, de cada região, para formatar corretamente o seu evento.
Muitas vezes o produtor erra colocando o artista no lugar errado! Inúmeras vezes vi DJs não agradando em certo club, mas a grande verdade a culpa não dele , e sim de quem o contratou, ou até de quem montou um line up incorretamente, colocando um DJ de som mais calmo num horário de pico, ou vice-versa.
Já no caso de um DJ LOCAL, que não está nas grandes mídias ou que não tenha uma grande base de fãs e seguidores, eu contrato se eu souber que eles vai “jogar junto”, eu preciso ter confiança no DJ de que ele vai dar o seu melhor na cabine para agradar o público, logicamente respeitando o gênero e estilo deles, afim de fazer a noite ser boa para o cliente e para o dono do club!
Outra coisa que conta para mim também é o DJ não pensar apenas no seu umbigo e no curto prazo, abrindo a noite tocando todos os hits do momento, só para prejudicar o DJ seguinte, com a ilusão de que vai chamar mais atenção, quando um DJ “acelera” cedo demais a noite acaba que a festa dura menos, o público se cansa mais rápido e o bar do evento fatura menos, ou seja, todo mundo é prejudicado: o dono do club, o promoter, e todos os funcionários que trabalham na casa !
Também tem aquele lado que os DJs costumam torcer o nariz: se na festa só tem público que ouve e curte apenas som comercial, será que é mesmo bom pro DJ apenas tocar sons desconhecidos, do que abrir o leque e tocar os sons da rádio? Será que o DJ não se prejudica mais não agradando as centenas de pessoas, aos promoters e aos donos do club tocando apenas o que ele quer, do que sendo mais flexível?
O DJ tem que perceber que a noite está literalmente na mão dele: é ele quem “decide” que horas a noite vai acabar, se vai ser animada e inesquecível, ou apenas mais uma noitada comum. Já fiz muita festa lotada porém desanimada, e também muita festa com público bem reduzido e que tava maior “pressão”, muito animada, ambas graças ao set dos DJs de cada uma.
FS - Do ponto de vista do contratante, que tipo de atitudes por parte do DJ podem ser prejudiciais para a sua carreira e podem “queimá-lo” no mercado?
BM - Um DJ pode se queimar de diversas formas e alguns se queimaram conosco, alguns até por atitudes estúpidas mesmo, tipo: encher a cara e não conseguir tocar direito, ficar mais preocupado em azarar a mulherada e aparecer pros amigos do que tocar música, já teve DJ que tocou pra gente e que no meio do set fez xixi na cabine, etc etc etc.
Outra coisa extremamente negativa, que também não entendo: tem DJ que faz fofoca e mete o malho em certos clubs e promoters, sem nem tentar um diálogo antes… para que? Não são eles que contratam os DJs? Se você não gostou de tocar em certa casa ou para certo produtor, não é mais fácil conversar com eles, ou até recusar o próximo convite?
E outra coisa: acima eu citei que muitos produtores erram colocando a atração errado para determinado público! Mas muitas vezes vejo DJs de má vontade ou DJs que apenas não conseguem ser versáteis. É óbvio que eu não vou pedir para um DJ de House tocar Hip Hop, por exemplo, mas tem DJ q realmente “caga” pra pista: chega, monta seu equipamento, faz o som apenas pra ele, e no final quem gostar, gostou e dane-se o mundo.
No caso de um DJ novato, e até de alguns experiente, ele tem que ser versátil, como um bom jogador de futebol, por exemplo: se um jogador é bom em chutar fora da área, se ele está sendo marcado nessa característica, ele tem q mostrar versatilidade, tem que mostrar que tem jogo e outros recursos, e que não precisa ser substituído.
O mesmo com um DJ: se tá naquela noite que o público só quer ouvir as “babas” (coisa que acontece no mundo inteiro e com grande frequência), se ele puder ser flexível em seu set ele vai conquistar a confiança dos profissionais que realizaram a festa, o público vai curtir, reconhecê-lo e respeitá-lo, e quem sabe no futuro esse mesmo público vai ser mais flexível quando ele trouxer novos sons pra sua pista? Isso sempre acontece.
Outra coisa que não entendo: tem DJ q sai de casa com o set pronto e acabou! Como assim? Foi como eu disse, é como um jogador: se a sua especialidade não tá funcionando bem naquele dia, e ele não quer ser substituído, ele precisa mostrar versatilidade e inteligência.
Logicamente ninguém vai pedir para um jogador de futebol jogar vôlei, nem pro DJ de hip hop tocar house, mas se o DJ em questão está batahando o seu espaço ele precisa ser flexível, ninguém nasce um Axwell ou David Guetta da vida, tem que ralar muito antes de tocar só o que quiser e ter seus próprios fãs.