segunda-feira, 16 de julho de 2012

Cultura e Cidadania

Por Augusto César Proença

Existe um conceito de que num país subdesenvolvido, pobre e carente como o Brasil, fazer cultura ou “mexer” com cultura é um luxo, coisa quase impossível, para não dizer secundária. Dizem que cultura não enche barriga de ninguém, não dá moradia, saúde, segurança ... Só aperfeiçoa o espírito, mas não dá lucro nem voto, não resolve os básicos e eternos problemas do povo brasileiro, problemas que há anos se arrastam sem solução e já se transformaram num excelente blá-blá-blá de palanque para encabrestar votos em época de eleição.

Encoberto por esse conceito, tão falso quanto vários outros fabricados pela elite dominante, o tempo vai passando e nada, ou quase nada é feito para reverter esse quadro de inércia e incompreensão cultural a que estamos submetidos, prejudicial a um país que necessita de Educação e de Cultura para se estabelecer com competência dentro do contexto da nova ordem econômica.

Nos tempos atuais, quando se fala muito em “cidadania”, deveríamos dar mais atenção à Cultura como forma de libertação, de desenvolvimento e de progresso social. Povo sem cultura será sempre um povo amordaçado. Sem voz. Sem vez. Que não se conhece como cidadão para poder reivindicar seus direitos civis e políticos. Será sempre um povo sem identidade própria. Fadado a viver como uma Maria-vai-com-as-outras, pau-pra-toda-obra, mão-de-obra barata, encurralado feito gado, dependente da venda de votos para poder ganhar minguadas cestas básicas.

Cultura não se reduz, como muitos pensam, apenas em entretenimento ou passatempo. Ela é, também, um veículo de transformação e renovação de um grupo social. É preciso encará-la como educação. Educação através da música, da poesia, da literatura, das artes plásticas, do teatro, do cinema, do vídeo ... Cultura é educar o povo. É fomentar políticas que promovam o debate, a pesquisa, a inclusão social e a conscientização do dever de preservar o ambiente urbano. É trabalho do dia-a-dia e não apenas do Dia da Cultura. É ensinar o povo a se expressar com clareza para melhor ser ouvido. A ter bons hábitos e costumes, noção de valores que formam a sua identidade, noção de regras de conduta, de higiene, de saúde, de sistemas de crenças. Ensiná-lo a não jogar lixo no chão, a plantar uma árvore e uma flor. A respeitar o Patrimônio Público, a casa onde mora, a rua que pisa, o gramado do jardim, o banco da praça onde se senta ou dorme, por infelicidade do destino.

E, ainda, esclarecer que cada cidadão tem o direito de exigir das autoridades o cumprimento das promessas feitas nos palanques e uma melhor qualidade de vida.Cultura é reciprocidade de interesses e de ideais. É a luz que ilumina o caminho e abre as portas da compreensão mútua e da percepção. Cultura é tudo. Representa um todo integrado, em que cada pessoa se articula com as demais. É exclusividade do ser humano, porque ele é quem faz Cultura para legar às gerações futuras. É memória. É história. É filosofia. É arma contra a violência , contra as drogas e contra a criminalidade.

Cultura é civilização, progresso e desenvolvimento de um grupo que deseja dias melhores. Que deseja viver com dignidade. É através da Cultura que seremos alguém. Que descobriremos o nosso verdadeiro papel dentro da comunidade e conseguiremos sair do poço do subdesenvolvimento agônico e vergonhoso, para alcançarmos a tão esperada e falada “cidadania”, que nada mais é do que a qualidade de cidadão cônscio dos seus direitos e deveres para com a sociedade em que vive.

Fonte: Ecoa