quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sustentabilidade significa sobreviver sem ampliar seu negócio?*

*Entrevista retirada do site da HSM
Com Jay Forrester


A Agenda Sustentável, parceira da HSM Online, traz a entrevista, a seguir, onde Forrester fala sobre a intersecção da sustentabilidade e da gestão.



Agenda Sustentável: Você acha que a crescente atenção à sustentabilidade apresenta oportunidades para empreendedores?


Jay Forrester: As oportunidades que crescem fora do que está acontecendo agora em sustentabilidade não são particularmente notáveis.


AS: Em quais oportunidades está pensando?

JF: Bem, haverá novas oportunidades em energia eólica. Haverá oportunidades na tentativa de afastar-se dos combustíveis fósseis. A rapidez com que essas novas empresas chegarão dependerá do curso dirigido pela atual situação econômica. As piores circunstâncias - depressões como a da década de 1930 - são janelas de oportunidades para mudanças tecnológicas e seria o momento ideal da mudança do petróleo para outras matrizes. É preciso pressionar para que isso ocorra e, se as velhas tecnologias foram tão longe quanto podiam, então é nos grandes baques econômicos que as novidades de que se falou por tanto tempo podem começar a florescer. Por isso, será interessante ver se daqui a 15 anos vamos perceber que a atual crise econômica, de fato, foi um motivador para o avanço de outras áreas.


AS: Quais são as oportunidades mais notáveis?


JF: Eu acho que são aquelas de começar a pensar no não-crescimento, impedir o aumento da população, nenhum aumento de áreas industriais -, mas estas são mais notavelmente intelectuais que aquelas que eu acho que você quer dizer. Não são provavelmente o tipo de coisa que representa uma grande retorno econômico aos acionistas, se você quer dizer esse tipo de notoriedade.


AS: Isso é uma oportunidade? Pode não soar assim para alguns.


JF: Eu acho que é. Mas de qualquer forma, pode ser a forma pela qual as empresas serão mais afetadas. Penso que um dos maiores problemas de gestão vai ser a de compreender como gerir uma empresa bem sucedida que não cresça - e como sair do estado de espírito no qual o sucesso é medido apenas pelo crescimento.


AS: Porque pensamos que o crescimento é necessário se uma empresa deseja ser viável?


JF: É muito comum a dizer: "Se você ficar parado, se não crescer, vai falhar". Bem, isso é possível se você não mantém um bom sistema, com políticas de gestão. Você ainda tem que ter alguma forma de manter a vitalidade, manter alguma evolução de produtos, mas deve fazê-lo dentro de uma demanda fixa sobre o ambiente. Não me lembro de ter ouvido falar disso nas escolas de gestão.


AS: O que impede gerentes e líderes de enfrentar esse desafio?


JF: A natureza da nossa cultura - a cultura que se desenvolveu durante os últimos 100 ou 150 anos ou mais, a cultura que diz que a tecnologia pode resolver todos os problemas, a cultura que diz que o crescimento é bom e pode continuar pra sempre, a cultura que diz que não se aborda coisas como controle populacional porque isso é uma área de debate muito traiçoeira. É a sensação de que, de alguma forma, podemos inverter a ordem e lidar com os sintomas em vez das causas.


AS: Será que algumas dessas convicções não serão apontadas como responsáveis pelos abalos econômicos? Talvez gerir uma empresa viável e que não cresça se torne atrativo.


JF: Acho que você está certo, é mais provável que essas questões sejam feitas agora do que há 20 anos, mas penso que a sobrevivência da empresa à atual desaceleração é muito diferente da sustentabilidade no longo prazo. Sobrevivência no longo prazo requer um conjunto de longo prazo [de gestão estratégica e práticas]. Você precisa treinar pessoas para isso. Você precisa de uma estrutura interna que produza rotação, [fluxos de pessoas e de recursos dentro e fora da organização], sem uma sobrecarga demasiado elevada.


AS: Então você não acha que a nova consciência Sustentável, junto com a evolução das pressões econômicas, oferecerá às empresas uma oportunidade de fazer mudanças culturais internas? Para operar em novas formas, sem comprometer seu apelo aos acionistas ou a sua existência?


JF: É possível. Mas, será provável? Seríamos mais provavelmente pressionados a separar sustentabilidade das atuais pressões econômicas, que estão, provavelmente, só começando a ser visto - e que, no curto prazo, de cinco a oito anos, pode dominar qualquer preocupação com sustentabilidade. As empresas vão falar de sobrevivência, não sustentabilidade. Portanto, a sustentabilidade em uma corporação é uma idéia que provavelmente terá raiz 15 anos a partir de agora, quando os atuais debates sobre a sustentabilidade amadurecerem, quando os atuais debates tirarem a idéia de que vamos resolver a sustentabilidade tratando os sintomas. Por hora, o trauma da atual evolução econômica irá provavelmente dominar.

Jay Forrester é professor emérito na Sloan School of Management do MIT e é o inventor da Memória de Acesso Aleatório (RAM) em sistemas de computador, bem como a "dinâmica de sistema", o uso de simulação em computador para analisar sistemas sociais e prever as implicações de modelos diferentes.