segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Lapa, cidade da música

O circuito cultural do Samba e Choro da Lapa permite repensar a crise e as alternativas para a indústria da música e para o Estado do Rio de Janeiro. É possível identificar na trajetória de sucesso deste fascinante circuito pistas capazes de nos fazerem refletir sobre a importância estratégica da cultura e, em particular, da indústria da música local para o desenvolvimento de diferentes regiões do país.No contexto atual, em que o desafio de promover o crescimento equilibrado aparece como uma verdadeira obsessão para as novas gerações, este livro busca contribuir de alguma maneira para a reelaboração de políticas públicas mais efetivas e democráticas.

“Que a indústria fonográfica tradicional está em declínio, disso ninguém duvida. Mesmo assim – no meio da crise – nunca se produziu e consumiu tanta música como hoje. Há certamente artistas e públicos para todos os estilos, contudo há obstáculos e problemas graves na mediação entre produção e consumo. A verdade é que o modelo desenvolvido pelas gravadoras no século XX não dá mais conta dos negócios. É esse contexto atual de crise e a necessidade de se buscar inovação que Herschmann avalia neste livro, dando importantes sugestões para entendermos o futuro da indústria da música.

Já há algum tempo, o público vem se conscientizando de que as novas músicas pop de periferia produzidas no Brasil – tais como o funk carioca, o tecnobrega paraense e o forró eletrônico cearense, entre outras – não dependem das grandes gravadoras e tampouco da grande mídia para manter sua enorme popularidade nas ruas e grandes festas da maioria das cidades do país. São novos business musicais (cada um com seu modelo diferente) apresentando propostas e soluções bem criativas para os dilemas gerais da indústria fonográfica. Entretanto, lendo Lapa, cidade da música, é possível constatar que outros gêneros musicais, com histórias mais longas e de maior credibilidade junto à crítica mais conservadora, vivem situações semelhantes, nas quais a “falta de apoio” tem obrigado os atores sociais a inventar outros novos modelos de negócios, em sua maioria dissociados do sistema que as majors gostariam de eternizar.

Apesar das dificuldades enfrentadas pelo setor musical no Brasil, o renascimento da Lapa e a visibilidade cada vez maior de uma nova geração de músicos de “samba-choro de raiz” evidenciam como – de forma inovadora, sem o incentivo do Estado ou das grandes gravadoras (e com a colaboração apenas da “mídia espontânea”) – estes atores sociais que atuam neste novo circuito cultural vêm conseguindo mudar a geografia da vida noturna do Rio de Janeiro.

Esse processo, que é resultante da articulação e ação de inúmeros agentes sociais, é estudado de forma detalhada e cuidadosa neste livro. O autor sugere, a partir de sua análise do caso da Lapa, que é preciso se apoiar soluções endógenas – afinal, elas foram o ponto de partida para se construir a “nova Lapa”, com grande sucesso. Um sucesso que deveria servir de lição para todos”.

*Este livro encontra-se disponível para empréstimo e consulta na Biblioteca ESPM Rio.

Fonte: Livro, uma cachaça retangular