segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A importância do figurino


No teatro, o figurino deve ajudar a contar a história. Auxiliar o ator a compor o personagem. Ser fácil de tirar e vestir. Exprimir uma identidade visual e estética. Correponder à idéia do diretor. E (claro) custar pouco.

A realidade das montagens teatrais brasileiras costuma reforçar o “custar pouco”. A maioria esmagadora das montagens no Brasil não entram em temporada – o que quer dizer que uma peça é produzida, ensaiada, sonorizada e VESTIDA para ser apresentada duas ou três vezes, em um final de semana ou dois, em um festival ou mostra de teatro, em uma data especial.

Para se montar um figurino é necessário pesquisar, conversar com o diretor sobre as idéias dele. Observar a interpretação dos atores e ver como é o personagem que eles estão construindo, para que a roupa expresse isso.

O vestuário faz parte do conjunto de significantes que molda os elementos tempo e espaço: a roupa é parte do sistema retórico da moda e argumenta para nos convencer que a narrativa se passa em determinado recorte de tempo, seja este um certo período da história (presente, futuro possível,
passado histórico etc.), do ano (estações, meses, feriados) ou mesmo do dia (noite, manhã, entardecer). De modo semelhante, as roupas de um personagem trabalham para demonstrar que este se encontra no deserto, na cidade, no campo, na praia. O tempo pode ser definido com auxílio do figurino de modo sincrônico ou diacrônico. Quanto ao espaço, o figurino ajuda a definir (ou tornar imprecisa) a localidade geográfica onde a história se passa.

De fato, o figurino serve à narrativa ao ajudar a diferenciar (ou tornar semelhante) os personagens, e ajuda a identificar em que arquétipo (ou em que clichê) o personagem se encaixa: seria tão difícil uma femme fatale ter o mesmo efeito sobre a platéia de um filme noir com roupas mais recatadas quanto seria acreditarmos em um super-herói capaz de realizar seus feitos incríveis se os figurinos de ambos os tipos não nos ajudasse a suspender a descrença e transfigurar a imagem do ator em um personagem.

Fonte: Camarim
O figurino como elemento essencial da narrativa