quarta-feira, 14 de março de 2012

Arte espanhola ilumina favelas do Brasil

Por Folha.com

Com cinco palavras, cinco cores e a convicção de que a arte pode ser um motor para a mudança, um coletivo de artistas espanhóis dedicados ao grafite e à pintura de muros tomou os becos de um empobrecido distrito da periferia de São Paulo para iluminá-los.

"Boa mistura" é o nome sob o qual atuam os cinco responsáveis por tingir os muros, escadas, portões e encanamentos de algumas vielas da Vila Brasilândia.

Radicados em Madri, onde começaram a pintar quando ainda eram adolescentes, os artistas contaram com a participação dos próprios moradores de Brasilândia para executar o projeto "Luz nas vielas", que se inscreve em um programa de ações do grupo que tem o objetivo de melhorar áreas degradadas através da arte.

Um dos membros do coletivo, Juan Jaume Fernández, explicou à agência Efe que o grupo trabalha de forma unida e "os egos estão diluídos", de modo que o resultado parece o trabalho de uma só pessoa.
Em uma conversa por telefone, o artista explicou que seu coletivo realiza trabalhos remunerados para estúdios de design, arquitetura e museus e usam parte do dinheiro para empreender atividades como o "Luz nas vielas".

"Todos os trabalhos remunerados que fazemos nos enchem o bolso, e os outros projetos nos enchem o coração", declarou Fernández.

Os jovens artistas viveram na Vila Brasilândia durante o mês de janeiro e tiveram contato direto com a comunidade, elemento que contribuiu de forma decisiva para dar forma ao projeto.

O resultado final é tão simples quanto eficaz: as palavras amor, beleza, orgulho, firmeza e doçura foram escritas em branco sobre um fundo de cores vivas, usando a perspectiva para dar às letras profundidade e movimento.


            Intervenção artística do coletivo espanhol BoaMistura nas vielas da favela na Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo

Para rematar os trabalhos, os artistas pintaram o muro de uma casa situada na base da favela com a mensagem "Amor ao bairro".

Os cinco amigos, como Fernández define os membros da equipe, conservam de seu início no grafite o uso desses materiais e o trabalho ao ar livre.

"O poder da rua é enorme, não está sujeito a galerias e é um presente que pode ser desfrutado por todos", disse.

Na opinião do artista, viver em um meio degradado faz com que os moradores se cansem desse ambiente. Por isso o grupo busca "usar a arte como um pequeno motor de mudança".

Durante sua estadia em São Paulo, o coletivo foi acolhido pela família de Dimas Gonçalves, brasileiro envolvido em projetos de desenvolvimento, que assegurou que a experiência tem pouco a ver com a ideia de um grupo de estrangeiros que faz filantropia e vai embora.

"Eles saíram daqui enriquecidos e apaixonados", disse Dimas à Efe.

Já Carolina Araújo, da ONG Escritório de Sustentabilidade, dedicada ao desenvolvimento sustentável, descreveu esse tipo de ação como uma "célula iniciadora para a mudança".

Para realizar o projeto, o Boa Mistura contou com apoio econômico e logístico da embaixada da Espanha no Brasil e a colaboração do Centro Cultural Espanhol, em São Paulo.

Após sua intervenção em São Paulo, os jovens visitaram o Rio de Janeiro, onde voltaram a brincar com as cores na favela do Vidigal.

O Boa Mistura já está de volta à Espanha, mas seu vínculo com o Brasil está longe de desaparecer, e seus integrantes estão dando forma a uma nova ação mais ambiciosa, que também terá como cenário a Vila Brasilândia.

O novo projeto prevê a recuperação de um conjunto de casas degradadas, uma tarefa que requer o envolvimento de seus moradores e de fabricantes de materiais de construção.