segunda-feira, 24 de junho de 2013

[Entrevista] A importância da estratégia

Entrevista com MARIO PERSONA, Palestrante, autor e consultor. Palestras de comunicação, vendas, inovação, segurança no trabalho (SIPAT), meio ambiente e qualidade de vida.

É mais fácil ser palestrante, consultor ou escritor? O que proporciona mais prazer, e uma atividade é conseqüência da outra?

Mario Persona - Sem dúvida alguma, a atividade que maior satisfação traz no longo prazo é ensinar, seja isso feito no meio acadêmico, através de livros ou em palestras. Gerar conhecimento é como fazer uma semeadura; sempre encontraremos frutos, e frutos dos frutos, ao longo de nossa vida. Sinto um prazer muito grande quando recebo algum e-mail de um aluno, de um leitor ou de alguém que esteve em uma palestra agradecendo pelo que aprendeu.
Particularmente considero a consultoria a atividade mais difícil, pois o consultor sempre acaba batendo de frente com o cliente ao apontar os problemas em sua empresa e as soluções que nem sempre são de fácil implementação. Todas essas atividades acabam se relacionando em vários aspectos, pois em todas elas o produto é o conhecimento e a experiência.



Estratégia não é um conceito simples de ser assimilado, porém, quando bem elaborada, geralmente é a salvação de muitas empresas. Existe uma maneira fácil de defini-la e aplicá-la?

Mario Persona - A maneira mais simples de se enxergar estratégia é pensar que a empresa está em um ponto "A" e precisa atingir um ponto "B". Estratégia é o que deve ser feito para se chegar lá, o que nem sempre é uma linha reta. Aí entra a inteligência do estrategista em analisar as muitas variáveis envolvidas no processo e escolher aquela que melhor se aplica à situação. Quem costuma velejar sabe que para ir do ponto "A" ao "B" às vezes é preciso viajar em zigue-zague para aproveitar melhor os ventos. Porém, a idéia de pontos "A" e "B" é apenas uma ilustração simples, mas nem sempre reflete a realidade. Há situações em que a melhor estratégia é não ir ao ponto "B" ou, talvez, até mesmo sair do segmento ou do mercado. Uma boa estratégia não pode partir de premissas imutáveis e deve levar em conta as possibilidades. Infelizmente muitas empresas procuram uma estratégia para negócios do tipo "Queremos vender areia no Saara" e até acabam encontrando um consultor que faça um bonito trabalho neste sentido. Sem resultado, porém.



Existe diferença entre a estratégia utilizada pelas empresas e a estratégia utilizada por profissionais liberais ou pessoas físicas?

Mario Persona - Os princípios são os mesmos, embora os objetivos possam variar. O que está acontecendo com maior freqüência, tanto para profissionais como para empresas, é que hoje somos obrigados a dirigir com um pára-brisa convexo, como uma lente que permita enxergar em 360 graus. Um olho fica no destino, mas o outro fica atento a mudanças repentinas no mercado. Antigamente fazíamos planos para vinte anos, depois para dez, depois para cinco, para três... Hoje um terrorista qualquer assume o controle de um avião e muda o mundo em questão de minutos. A melhor estratégia hoje é a estratégia da mudança contínua, ou melhor, da prontidão para a mudança.



Bom relacionamento interpessoal é sinônimo de marketing pessoal?

Mario Persona - O relacionamento interpessoal é apenas uma das facetas do marketing pessoal. O marketing pessoal tem por objetivo criar uma marca positiva por onde quer que passemos, portanto é um trabalho de "marcar" pessoas com nossas qualidades para que elas multipliquem essa percepção. O bom marketing pessoal é como um perfume, que deixamos por onde quer que passemos, quer criemos um relacionamento mais estreito com as pessoas que encontramos, quer não.



Por que muitas empresas continuam errando na estratégia, apesar de contar com os melhores profissionais do mercado?

Mario Persona - Acho que o gesso é sempre um problema para qualquer negócio. Empresas engessadas demoram a perceber que estão no caminho errado ou que demoraram demais para adotar uma nova rota. Mesmo que uma empresa apele para um bom profissional, devemos nos lembrar de que esses profissionais também são seres humanos, sujeitos a erros, a teimosias e a uma visão equivocada do mercado. Como fazemos com a saúde, nunca é demais buscar uma segunda opinião.



Por experiência própria, noto que a maioria das empresas não se preocupa com os conceitos do planejamento estratégico, missão, visão, valores, políticas e outras coisas básicas da administração moderna? A que você atribui esse ceticismo?

Mario Persona - Creio que nem sempre é uma falta de preocupação, mas uma falta de tempo para se preocupar. As empresas hoje vivem em um ritmo tão acelerado que mal podem parar para planejar. Mas é aí que muitas acabam se dando mal, pois sem planejamento fica difícil crescer ou até mesmo sobreviver nos dias de hoje. O que às vezes é preciso é um planejamento mais enxuto, mais de guerrilha, de campo de batalha, sem muitas delongas em seguir o figurino e preencher todas as etapas.



Sob o ponto de vista do marketing, que conselhos você daria aos iniciantes no mundo dos negócios para encurtar o caminho da prosperidade?

Mario Persona - Não existe prosperidade sem trabalho, sem planejamento, sem uma visão clara e inteligente dos objetivos da empresa ou do profissional. Em marketing, entendo que essa visão clara está em ter bem definido quem é nosso cliente e sua capacidade de compra. Nem sempre um bom produto ou serviço garante que minha empresa vá prosperar. Eu posso vender Ferraris, mas se quiser fazer isso para uma comunidade pobre em um país subdesenvolvido, não vou conseguir. Deve haver inteligência em qualquer negócio para avaliar todas as possibilidades.



Apesar das dificuldades para se empreender no Brasil, da falta de seriedade com as leis e da falta de apoio para os pequenos e médios empreendedores, muitos ainda prosperam. A estratégia de marketing pode contribuir para a redução da mortalidade das empresas no país?

Mario Persona - Sim, e o primeiro passo é deixar claro para o empreendedor que marketing não é propaganda, mas todo um conjunto de ações que envolvem detectar, analisar e atender de forma lucrativa as necessidades e desejos de um mercado. O que muitas vezes acontece é um problema de comunicação. Se você perguntar, a maioria das empresas dirá que está investindo em marketing porque colocou um anúncio no jornal. Quando nada acontece, o empresário acaba concluindo que nem mesmo uma estratégia de marketing foi capaz de fazer algo por sua empresa.



Se o Mario Persona tivesse o poder de mudar a estratégia de atuação do Brasil perante a comunidade internacional, qual seria a primeira providencia a ser tomada?

Mario Persona - Investir em educação e infra-estrutura, privatizar o maior número possível de empresas e explorar muito bem as áreas e os acordos de livre mercado. Outra providência seria evitar a todo custo uma atitude paternalista de proteção de mercado e barreiras contra a livre concorrência. Estamos assistindo ao nascimento de várias nações nesta virada de século. Os países da ex-União Soviética, a China, os países da região Ásia-Pacífico, todos eles são como recém-nascidos tentando se livrar da placenta e cortar o cordão umbilical com o passado. Os que estão sendo rápidos na adoção de práticas de livre iniciativa, livre concorrência e livre mercado estão se saindo melhor. O caminho é esse.



Qual é o diferencial competitivo do Mario Persona?

Mario Persona – Creio que meu diferencial competitivo está naquilo que o mercado pensa de mim. Por isso procuro ouvir bastante para tentar detectar as arestas que devem ser eliminadas, porque todos nós as temos. Outra coisa é saber que o diferencial competitivo muda rapidamente, acompanhando os tempos e a percepção do mercado. Por isso seria temerário afirmar que meu diferencial hoje é isso ou aquilo, sabendo que amanhã pode ser outro. Gosto de me lembrar que há dez anos eu era procurado por ser entendido em Internet, nas possibilidades do comércio eletrônico, na revolução que estava por acontecer. Se eu tivesse parado nisso depois que a revolução aconteceu estaria a ver navios. A maioria de meus clientes atuais nem sequer imagina que um dia meu conhecimento de Internet foi meu diferencial.



Como estrategista e palestrante, você acredita no futuro no Brasil?

Mario Persona – Creio que sim, por causa da índole de nosso povo. O mundo inteiro sabe que o brasileiro é um povo criativo, amigo e empreendedor, por isso creio que temos tudo para vencer é nisso que está nossa força como povo. Estamos vendo um mundo que muda o tempo todo e onde a prosperidade cresce mais pelo diálogo do que pela força, e o brasileiro é bom no diálogo, no relacionamento e na facilidade de se adaptar às mudanças.

Fonte: Mario Persona