segunda-feira, 30 de setembro de 2013

[Entrevista] A banca e o mercado editorial

Por Luciano Martins Costa para Observatório da Imprensa

Francisco Chagas Holanda é jornaleiro, possui uma banca de jornais e revistas na Alameda Santos, esquina com a Rua Pamplona, em São Paulo, e é também jornalista. Francisco Holanda é autor, em parceria com a também jornalista Milena Shimizu, de um trabalho de pesquisa com mais de 300 páginas, sobre como as bancas de revistas e jornais influenciam as decisões do mercado editorial.

Luciano Martins Costa: - Francisco, a que conclusões vocês chegaram nesse trabalho?

Francisco Holanda: - A importância da banca para o mercado editorial é um trabalho que defende a tese de que a banca deve ser trabalhada como um espaço de divulgação e não de venda, e que o editor que colocar seu produto na banca achando que é a sobrevivência dele, ele já começa fadado ao fracasso. Esse trabalho é desenvolvido em vários capítulos, com uma pesquisa bem sólida e fundamentada, em que a gente aborda não só os editores, mas toda a distribuição. E mostra que não só as revistas, mas também os jornais têm que trabalhar o espaço da banca como um espaço de divulgação. Todos estão lá. O leitor é livre para escolher, e é dessa livre-escolha que ele tem que tirar suas conclusões.



Luciano Martins Costa: - Por isso é que há muita pressão dos departamentos de distribuição das editoras para fazer uma boa exposição das publicações?

Francisco Holanda: - Sim. Com toda razão. A gente fala que a banca é o lugar das cotoveladas, porque é lá que estão os seus pares e é lá que você tirar as conclusões mais vivas. Inclusive, a gente mostrou um trabalho da Revista Época em que ela colocou sensores de vendas em determinados pontos do Brasil inteiro, e que se aferia o horário em que a revista era vendida; a quantidade de exemplares vendidos durante a semana; quais eram os temas que chamavam mais atenção. E chegaram a algumas conclusões: Cristo, drogas, emagrecimento eram temas que sempre vendiam. Nesse sentido é que a gente mostrou também que a fragmentação de títulos, um título guarda-chuva, que cobre um monte de revistas, traz outra tendência: a revista nasce para atender um público específico e fazer análise de um determinado tema, não é mais aquela revista factual. Nem o jornal pode ir mais para o factual.



Luciano Martins Costa: - Como as características da venda, do ponto de venda, estão alterando as decisões editoriais?

Francisco Holanda: - Alteram na medida em que, ao colocar o seu produto em um ponto de venda, o editor percebe a tendência do mercado. Como a tendência é uma tendência ao mesmo tempo de análise – o leitor procura um produto que vá atender a necessidade dele, mas a necessidade com mais profundidade – e de atender uma necessidade imediata. Ou seja, não é à toa que os jornais de serviços locais vendem mais que os grandes jornais, tradicionais, de circulação nacional. O que eles trazem resolve o problema da aposentadoria, o problema do trânsito, chuva.



Luciano Martins Costa: - É a função utilitária da imprensa?

Francisco Holanda: - A função utilitária da imprensa. Ao mesmo tempo, as revistas começaram a agregar serviços, como é o caso da Veja, em que o leitor chega na banca procurando pela Vejinha, olhar na programação da Vejinha. Até esquece o tema de capa da revista. Nos outros títulos, como os de decoração, um exemplo bem prático. A Casa Cláudia lançou um monte de títulos: “Decorando só o seu quarto”; “Decorando só a cozinha”; então procura trabalhar a cozinha em todos os seus aspectos. Essa cozinha pode ser expandida para todos os outros títulos da banca.



Luciano Martins Costa: - Ou seja, a editora procura explorar cada vez mais uma marca específica, suas marcas específicas.

Francisco Holanda: - Exatamente. A marca vem da confiabilidade ou assunto tratado. A multiplicidade de títulos não quer dizer desleixo ao trabalhar os temas, pelo contrário: só se dá bem quem trabalha muito bem cada tema escolhido.



Luciano Martins Costa: - E qual é a tendência de futuro na sua opinião?

Francisco Holanda: - A tendência de futuro é exatamente essa: a banca é um ponto em que você faz a aferição dos produtos, vê qual é a tendência do mercado, corre atrás e tenta trabalhá-lo da melhor maneira possível.